o homem analógico no mundo digital

Antônio R. Gugel
1 min readJul 31, 2020

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com as engrenagens estralando,
clamando por lubrificação,
com ócio contínuo travando
todo o sistema que foi planejado
para outros fins.

com o sorriso cravado,
com as alucinações funcionando,
com a alegria obrigatória,
com todos os problemas se afundando
com a tristeza indo embora,
já que nós chegamos ao fim
não precisamos da evolução.

com o amor cada vez mais rápido,
com o sexo cada vez mais longo,
com os olhos sempre para baixo
e os corações só aguardando,
os fins nobres que chegarão
em nossa mediocridade guardada,
seja bem vindo à perfeição
das palavras silenciadas.

não existem dificuldades,
tudo foi superado,
ria, não chore, só cante
a liberdade dos sonhos quebrados,
viva apenas suas paixões
no êxtase deste mundo
desgovernado.

ande sempre para frente,
não se permita olhar para os lados,
não veja o sorriso circense
daqueles que não se importam
com o seu trabalho,
você está sempre certo,
sim, eles estão condenados.

não dê abraços,
não use drogas,
não fale de amor,
não estude história,
mantenha uma distância confortável
dentro desta caverna que te consola.

e só faça sexo virtual
que é pra não sujar a piroca,
contato humano é demodê,
está completamente por fora,
mas nunca ande sozinho neste mundo
onde os românticos choram.

Olá, este é meu primeiro post aqui no Medium, então aceito toda espécie de feedback e possíveis sugestões pra deixar o texto mais interessante. Gosto muito de poesias e faço também contos crônicas e resenhas, que aos poucos pretendo ir postando aqui.

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Antônio R. Gugel

Psicólogo, psicanalista, metido a poeta, a cronista reflexivo e a ficcionista.